Cem Sonetos de Amor
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PABLO NERUDA
Para aqueles que como eu amam o Brasil, nestes tempos de
desprezo pelo honesto, de "corvos" volitando sobre nossas cabeças e defecando em nossos ombros cansados de tantos ultrajes. Para um país glorioso em todos os sentidos, mas vencido por verdadeiras hienas que se aproveitam do poder e covardemente rasgam as carnes da amada terra e do povo brasileiro que agonizam como animais feridos. Eu dedico este soneto do grande Pablo Neruda ao meu amado Brasil.
LXIII
Não só pelas terras desertas onde a pedra salina
é como a rosa única, é flor pelo mar enterrada,
andei; mas pela margem de rios que cortam a neve.
As amargas alturas das cordilheiras conhecem meus passos.
Emaranhada, silvante regiao de minha pátria selvagem,
lianas cujo beijo mortal se encadeia na selva,
lamento molhado da ave que surge lançando seus calafrios,
oh regiao de perdidas dores e pranto inclemente!
Nao só sao meus a pele venenosa do cobre
ou o salitre estendido como estátua jazente e nevada,
mas a vinha, a cerejeira premiada pela primavera,
sao meus, e eu pertenço como átomo negro
às áridas terras e à luz do outono nas uvas,
a esta pátria metálica elevada por torres de neve.
Pablo Neruda
Muita Luz Mariah